Andy Warhol 16mm - Sobre a Mostra
Andy Warhol 16mm - Sobre a Mostra

LARGER THAN LIFE

Em janeiro de 1964, o artista plástico Andy Warhol escolheu um galpão na rua 47, em Nova York, para ser o seu local de trabalho. Ele decidiu chamar o local de Factory (fábrica), fazendo uma alusão aos processos mecânicos de produção que o interessavam esteticamente e como nova forma de produzir arte. Com a ajuda de seus assistentes Gerard Malanga e Billy Name, ele aos poucos tornou a Factory não só um centro de produção artística, como um ponto de encontro da cena intelectual e artística de Nova York. Lá, se produziam pinturas, objetos, filmes, festas e fofocas, tudo em escala industrial. Só filmes, foram centenas. Warhol não se incomodava com o acúmulo exagerado, pelo contrário, isso o estimulava – pouco importava que ele não conseguisse exibir tudo que rodava.

Essa primeira “fábrica” de Warhol (depois houve uma segunda, em Union Square) ficou conhecida como Silver Factory por conta da cor prateada que cobria todas as paredes, móveis e até a privada do banheiro do lugar. Isso foi executado por Billy Name, que a pedido de Warhol embrulhou tudo com papel prateado, e pintou com spray prateado o que sobrou. Billy também era o iluminador da Factory, tendo instalado spots de luz no teto (ele tinha experiência como iluminador de teatro) e sendo responsável pela iluminação de muitos dos filmes de Warhol. Depois de receber uma câmera de presente de Andy, ele também virou o fotógrafo-still oficial do lugar, tendo criado algumas dos registros mais importantes do ambiente criativo em que Warhol trabalhava. Algumas das fotos que ilustram nosso catálogo foram gentilmente cedidas pelo Sr. Name, o que é uma grande honra.

O imã de celebridades e aspirantes a tal que a Factory se tornou pela capacidade de Warhol em agregar pessoas, e também pelo talento que ele tinha em vender sua imagem para a mídia, fez com que quase espontaneamente se criasse uma espécie de simulacro do star system de Hollywood dentro daquele galpão em Nova York. Ele criava estrelas que, dentro da produção frenética movida a anfetamina do lugar, se degladiavam, ascendiam, entravam em decadência, se afastavam, e eram substituídas por outras, tudo em um espaço de poucos meses. Ele chamava suas estrelas on speed de Superstars. Essa palavra é comumente citada como criação de Warhol, mas em texto escrito especialmente para essa mostra, Ken Jacobs afirma que quem cunhou o termo foi Jack Smith, cineasta underground que foi influência decisiva na produção cinematográfica de Andy, tendo inclusive atuado em alguns de seus filmes. Entre os Superstars mais famosos estão Edie Sedgwick, Viva, Ultra Violet, Ondine, Nico , Taylor Mead, Joe Dalessandro, Jane Holzer e Mario Montez. Todos estão presentes na mostra.

Warhol se interessava em trabalhar o cinema de forma expandida, fazendo dele se não “maior que a vida”, como se fala em inglês, pelo menos tão grande quanto ela. Isso se desdobrava tanto no seu gosto por projeções múltiplas, quanto na quantidade e duração dos filmes e nos ambientes de exibições deles. Era como se seu cinema precisasse ocupar o maior espaço possível, durante o maior tempo possível. Desde o primeiro filme que fez, Sleep, Andy se interessava por filmes que tinham uma duração quase impossível de se assistir. Ele teve alguns projetos não realizados de filmar 24 horas na vida de uma pessoa (Edie Sedgwick e Marcel Duchamp foram possibilidades), até finalmente realizar ****(Four Stars), filme de 25 horas de duração que acumulava 46 horas de material em projeções duplas, que foi exibido uma única vez, em dezembro de 1967. Falando sobre essa sessão no livro POPism, Warhol diz: “O estranho é que era a primeira vez que eu mesmo estava vendo tudo – nós fomos direto para o cinema com todos os rolos. Eu sabia que nós nunca mais projetaríamos daquela forma longa novamente, então foi como a vida, nossa vida, passando na frente de nós – ela só passaria uma vez e nós nunca mais a veríamos de novo.”

Essa expansão do cinema também se dava no diálogo com outras artes e ambientes fora da sala de cinema. O exemplo mais emblemático disso são as múltiplas projeções de filmes e slides no Exploding Plastic Inevitable (ou Andy Warhol: Uptight, como era chamado inicialmente), o show/performance/festa multimídia que Warhol levou para a estrada com a banda Velvet Underground como atração central. Muitos filmes foram produzidos especialmente para serem projetados dentro desse ambiente frenético com luzes coloridas, dançarinos no palco, e a banda tocando no volume máximo. Um dos últimos filmes de Andy com Edie Sedgwick, Lupe, estreou sendo exibido em projeção tripla dentro do primeiro desses eventos. Apesar de ter uma produção muito extensa, era comum Warhol reaproveitar um filme de várias maneiras de exibição diferentes: I, A Man, por exemplo, estreou comercialmente em versão editada , e teve todo seu material bruto exibido dentro de ****(Four Stars).

Em 1972, Warhol decidiu tirar todos os seus filmes de circulação, por questões de preservação (eles eram rodados em filme reversível) e sabe-se lá por quais outras razões. Durante anos, seu trabalho cinematográfico virou uma lenda urbana. O filme de seis horas de um homem dormindo, o filme de oito horas do Empire State Building, a vida trágica dos Superstars. Anedotas. Por conta desse desaparecimento, sua cinematografia deixou de ser pensada como parte integrante e influente da história do cinema. A projeção midiática que Warhol conseguiu com filmes como Chelsea Girls e Blue Movie foi um fator importante para a consolidação de um realismo cru que se instalou no cinema americano no fim da década de 60 e início de 70. Ele se ressentia dele próprio não conseguir fazer a transição completa para o cinema mainstream, e Hollywood “chupar” tanta coisa dele. Em POPism, ele fala da sua sensação na época: “Eu pensava: por que eles não dão dinheiro para NÓS fazermos, digamos, Perdidos na Noite? Nós o teríamos feito tão real.”

Na década de 80, um esforço em conjunto do Whitney Museum com o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), com apoio da Fundação Andy Warhol Para As Artes Visuais, tornou possível o inicio de um trabalho de restauração, preservação e distribuição dos filmes de Andy Warhol. Esse trabalho, hoje em 2011, ainda está em andamento, e ocasionalmente mais filmes são restaurados e disponibilizados para locação na Circulating Film Library no MoMa. É o caso de The Velvet Undergound in Boston, disponibilizado no ano passado, e exibido pela primeira vez no Brasil na nossa mostra. Todos os outros 22 filmes exibidos também foram locados do mesmo acervo.

A programação da mostra contém exemplos dos muitos lados da produção cinematográfica de Warhol. Vai desde a experimentação conceitual de Sleep até a tentativa de se fazer um filme comercial sexploitation em I, A Man, passando por filmes criados para e/ou lançados pelo Exploding Plastic Inevitable, como Salvador Dali e Lupe. O fato de que todos serão exibidos em 16 mm, a bitola original de exibição, faz da mostra uma oportunidade única de ter contato com essa produção no suporte para o qual ela foi criada. Soma-se a isso ao acontecimento raríssimo de que Sleep e Empire serão projetados na íntegra, e que Outer and Inner Space, Lupe e Chelsea Girls serão exibidos com o formato original de projeção dupla (dois projetores em uma mesma tela).

E pensando que Warhol gostava de travar um diálogo dos seus filmes silenciosos com experiências musicais, faremos nossa pequena homenagem ao Exploding Plastic Inevitable apresentado sessões de Kiss, Mario Banana#1 e Couch acompanhadas de música ao vivo, a cargo de Pedro Sá e Domenico Lancellotti.

Pedro Modesto
curador

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